* Doutor em Educação
Sou juliano: entre 1979 e 1982, estudei no Colégio Estadual Júlio de Castilhos. Ser juliano é, em primeiro lugar, ter vivido a escola como lugar de aprendizado e de sociabilidade. A experiência política veio depois: ali fiz minha primeira participação política no movimento de estudantes para liberar a entrada na escola com... Havaianas! Sentamos todos no chão do saguão da escola, num movimento pacífico, não violento, gandhiano. Saímos vencedores.
Na época, havia um "tio" chamado de capitão – sinal dos tempos – que guardava a entrada da escola e circulava pelos corredores junto com uma cachorra. Era o que bastava para deixar longe do pátio drogas e traficantes. Não é que não houvesse consumo nos anos 80, mas era fora da escola. Nunca ocorria no pátio, até porque o "capitão" não deixava: o consumo de drogas ocorria nas festas nas casas de amigos, longe do olhar dos pais, ou nos bares do Bom Fim.
O pátio era um lugar sagrado porque era onde se jogava conversa fora ou se praticavam esportes. No recreio, podia-se até ir ao Shopping João Pessoa ou ao Colégio Inácio Montanha. Quem passava de ano era jogado no "laguinho" em frente à escola: fui jogado três vezes. Eu passava de ano graças aos professores excepcionais de física, língua portuguesa e tantas outras disciplinas que, tempos depois, tornaram-se professores universitários. Havia laboratórios de ciências e, para entrar no colégio, fazia-se uma prova. Nesses quase 40 anos, o Julinho fez o triste caminho de escola padrão a uma escola como as outras, que sofrem os efeitos do abandono da educação pelas políticas públicas neoliberais.
Para mim, o consumo de drogas no pátio da escola revela que a cultura juliana está em processo de corrosão. Uma escola não morre quando lhes cortam os recursos ou quando atrasam os salários dos professores. Ela começa a morrer quando é abandonada por seus alunos e a droga é a porta de saída. Ser juliano é fazer da vida escolar parte do que se é, é uma identidade e um valor do qual nos orgulhamos: lamento que a reportagem de ZH sinalize que a escola, por inúmeras razões, já não é capaz de fomentar essa identidade entre seus alunos.