* Juiz federal, presidente da Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul (Ajufergs)
Dia desses apareceu uma camiseta onde estava estampada a mensagem "Quanto maior o Estado, maior a corrupção". Será mesmo?
Quando se fala em corrupção, a primeira ideia que vem à cabeça é que tem político ou servidor público envolvido. Só que não! Basta observar os fatos envolvendo as empreiteiras da Lava-Jato.
É difícil a ocorrência de corrupção sem envolvimento do particular. Se o funcionário público não contasse com a probabilidade de obter vantagem indevida, por certo não procuraria o particular. E é pela iniciativa deste que, em grande parte das vezes, o funcionário se corrompe. Essa relação promíscua pode progredir tão intensamente, até se tornar prática rotineira, como nesse caso da construtora e os diversos agentes públicos implicados.
Com base nessa premissa, de que a corrupção mistura o privado e o público, dizer que o tamanho do Estado é proporcional ao índice de corrupção pode levar à conclusão de que, quanto menor a iniciativa privada, também menor será a corrupção. E vice-versa. Porém, ambas as ilações são absurdas. A mensagem da camiseta nada mais revela que um sofisma, por trás do qual estão ocultas a intolerância e a indisposição ao diálogo.
São duas concepções autoritárias. A história e a filosofia política têm provas suficientes de que é maléfico tanto o Estado paquidérmico quanto o Estado raquítico ou inexistente. Nesse contexto, é ingenuidade ou má-fé mensurar a corrupção a partir do tamanho do Estado. A corrupção tem raízes culturais. Há Estados inchados que não apresentam os mesmos índices da corrupção atávica que assola o brasileiro, como há Estados mínimos que ombreiam com esses mesmos índices.
Evitar o debate é próprio de quem acredita em dogmas preconcebidos e desapegados da realidade. É postura de fanático, que tem receio ou preguiça de compreender os exatos contornos do problema. O fanático não elege lado, opta pela postura intransigente. O caminho ao solipsismo pode estar à direita ou à esquerda, pouco importa. O fanatismo não escolhe ideologia.