* Presidente do Cremers
Durante recente fiscalização em hospital do Interior, um paciente em traje humilde, ao perceber a movimentação dos fiscais do Cremers seguidos pela imprensa, desabafou:
– Vocês, engravatados, nunca resolvem nada. Vão embora e nós continuamos aqui sofrendo para ter atendimento.
A frase era um protesto, mas acima de tudo um pedido de socorro. É assim que sentem aqueles que dependem do sistema público de saúde, cada vez mais precarizado em função de financiamento insuficiente, má gestão de recursos e principalmente pelo mal que se instalou no Brasil, a corrupção.
Em artigo publicado no dia 9 de agosto, em ZH, a senadora Ana Amélia Lemos cita que a Controladoria Geral da União constatou desvios superiores a R$ 5 bilhões na saúde pública no período de 2012 a 2015 (27,3% do total de irregularidades em toda a administração federal).
O resultado do assalto inclemente aos cofres públicos é o caos em que se encontra a assistência pública de saúde do país, penalizando principalmente a população mais carente. O orçamento da saúde pública muito aquém das necessidades reais, reflexo de uma política que não coloca a saúde como prioridade, diminui ainda mais em função do desvio de recursos praticado pelos corruptos.
Em suas vistorias de unidades de saúde, a equipe de fiscalização do Cremers depara quase sempre com o mesmo quadro desolador: são hospitais, pronto-atendimentos, UBSs e UPAs em situação crítica, todos atravessando enormes dificuldades para manter portas abertas diante do combalido e reduzido orçamento.
É cada vez mais difícil encontrar um hospital, prioritariamente SUS, que não apresente graves dificuldades operacionais, falta de medicamentos, falta de material e equipamentos, e que não esteja com a remuneração de médicos e trabalhadores em atraso de vários meses. Algumas unidades, inclusive, com indicativo de interdição ética da prática médica.
Sem a caneta, sem a chave do cofre, e não podendo fiscalizar o destino das verbas públicas, cabe aos 'engravatados' do Cremers fazer a sua parte na ponta do sistema: defender o exercício ético da medicina e buscar condições adequadas de trabalho e de atendimento.
Cabe a outros 'engravatados' equacionar questões que envolvam aumento do orçamento e gestão dos recursos, além de dar um basta à corrupção.