* Advogado, primeiro suplente de senador (PDT-RS)
Vivemos tristes tempos onde a Câmara Federal oficializa a insólita figura da "obstrução parlamentar" de denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República. Foi o que restou configurado com o resultado da votação que acompanhamos. O Supremo Tribunal Federal fica agora impedido de apreciar ou não a denúncia contra o presidente Temer.
Neste momento, cabe recordar as grandes mobilizações de rua de tempos recentes, divulgadas com destaque pela imprensa nacional, quando multidões anunciavam orgulhosamente a luta contra a corrupção. Antes eram "pedaladas fiscais", na esfera administrativa. Hoje é corrupção passiva, prevista em código penal.
Insólito combate à corrupção este, que não se manifesta com a mesma contundência nas ruas, quando agora o país depara com um "caso de polícia", justamente por parte de quem deveria ser uma reserva moral. Deputados comprados com emendas parlamentares, cargos no governo, financiados por empresas que hoje estão na mira da Lava-Jato, tornam-se cúmplices da corrupção.
O povo brasileiro precisa de estabilidade na condução de seus destinos, conduzidos por um chefe de Executivo acima de qualquer suspeita, com postura e valores que o diferenciam dos demais cidadãos. O atual mandatário é justamente o oposto ao que aqui me refiro.
Vivemos em tempos contraditórios em que o Parlamento se opõe ao trabalho de uma investigação criminal, com provas contundentes, oferecida pela Polícia Federal e encaminhada pelo procurador geral da República. Restamos agora coniventes com a corrupção de um presidente, tão suspeito como tantos outros que hoje estão condenados penalmente.
São os preocupantes tempos contraditórios, onde princípios e valores já não mais são respeitados, onde agentes públicos são tarifados, em detrimento da verdadeira motivação de exercer um papel público. Fosse este um programa de televisão, seria certamente o "topa-tudo por dinheiro"; fosse esta uma composição musical, permanece latente a voz de Renato Russo: "Que país é esse?"