Diante da possibilidade de ser denunciado mais uma vez pela Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer determinou uma caçada intensa a indicações de parlamentares que votaram pela continuidade da investigação sobre a acusação anterior no Supremo Tribunal Federal (STF). Não é a primeira vez que a prática é usada. Ainda assim, é sempre inadmissível que políticos em dificuldades recorram com tanta facilidade a esse tipo de expediente para atender a interesses próprios. Cargos públicos, bancados com dinheiro dos contribuintes, não poderiam fazer parte de um verdadeiro balcão de negociação.
Surpreende, no caso específico, a quantidade de postos envolvidos em indicações de meia dúzia de parlamentares que, mesmo aliados, julgaram conveniente a continuidade da ação para o devido esclarecimento da denúncia. É inadmissível que um número tão elevado de órgãos públicos possa se prestar, na ótica do Planalto, como mero cabide de emprego. Entre eles, estão o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e a Agência Nacional de Mineração (ANM), envolvida em recente polêmica sobre a liberação de garimpo na Amazônia.
A estimativa é de que, só para punir os "infiéis", o Planalto irá demitir 140 servidores. E, o que é mais preocupante, pretende substituí-los por indicações de aliados determinados a barrar uma eventual nova denúncia.
A ocupação de cargos públicos não deveria se prestar como moeda de troca na defesa de interesses particulares de governantes. O fisiologismo é uma deformação que precisa ser corrigida com uma redução considerável no número de indicações políticas e mais ênfase nas admissões por concurso público. A questão é que uma alteração nos critérios depende da decisão dos parlamentares. Isso significa que nada vai mudar sem uma pressão forte e continuada por parte da sociedade.