A capacidade de as instituições cumprirem com seu papel e fornecerem respostas constitucionais diante de grandes desafios é justamente o que tem permitido ao país resistir sem maiores traumas à sucessão de crises de natureza política e econômica registrada nos últimos anos. Por isso, o que os resultados da pesquisa Ipsos, divulgados no fim de semana, têm de mais preocupante é justamente o fato de apontarem que o desgaste dos poderes perante os brasileiros já não se restringe a políticos de maneira geral e a integrantes do Executivo. Atinge também membros do Judiciário e do Ministério Público. A explicação, no caso, seria o sentimento de que o combate à corrupção, simbolizado hoje pela Lava-Jato, perdeu força. É preciso que essa percepção seja desfeita.
O país só conseguiu passar sem maiores consequências por episódios traumáticos recentes devido à capacidade de as instituições, à sua maneira, exercerem seu papel. Entre os casos recentes mais desafiadores, estão o conluio desvendado entre setor privado e poder público e um segundo processo de impeachment no curto período da redemocratização. Quando políticos decidem abrir mão da função fiscalizadora do Congresso sobre atos do Executivo e quando o próprio Executivo se fragiliza por uma avalanche continuada de denúncias, o resultado só pode ser o apontado pelo levantamento: a perda de confiança da população na capacidade desses mecanismos constitucionais para darem respostas à altura das expectativas.
A questão se agrava quando também o Judiciário e o Ministério Público passam a enfrentar índices elevados de desaprovação de uma maioria de seus integrantes, cujos nomes foram submetidos aos entrevistados entre julho e agosto. Isso se dá porque a população, majoritariamente, apoia o combate à corrupção. E, pelo que percebe em meio à falta de transparência dos atos de homens públicos, entre atitudes incompatíveis com o cargo exercido e manifestações que não se coadunam com as esperadas de uma autoridade, as chances de o país ser passado a limpo vão ficando menores.Não há democracia sem políticos, nem sem instituições fortes.
O desgaste apontado em pesquisa também na imagem do Judiciário e do Ministério Público demonstra que todos os poderes precisam refletir sobre o seu papel. O país só tem como sair fortalecido da crise, que é de natureza política e econômica, mas também moral, se a sociedade tiver razões para confiar que Executivo, Legislativo e Judiciário cumprem plenamente com suas atribuições, de forma independente e harmônica, como prevê a Constituição.