O emocionado depoimento da professora aposentada Diva Guimarães na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que em minutos a transformou em celebridade nas redes sociais, repercutiu mais, num primeiro momento, como denúncia contra o racismo. Ainda assim, chama também a atenção no discurso da educadora durante o encontro, encerrado no fim de semana no Rio de Janeiro, justamente o quanto a educação pode transformar vidas. Sem acesso a ensino de qualidade para todos os brasileiros em idade de aprendizagem, o país não irá superar algumas de suas maiores mazelas, que vão do próprio racismo às iniquidades sociais, à falta de civismo e respeito ao próximo, incluindo a criminalidade.
Como destacou a própria professora paranaense, descendente de escravos, sua vida teria sido outra se sua mãe, que lavava roupa para fora em troca de material escolar, não tivesse convencido a filha sobre a importância de estudar. Graças a essa consciência e esforço, Diva conseguiu vencer resistências impostas pelo racismo, formou-se em Educação Física e foi professora durante 40 anos, atuando também com alfabetização de crianças. O exemplo, surgido da plateia, não poderia ser mais pedagógico num evento cujo homenageado era o escritor Lima Barreto, que, num país até hoje de pouca leitura, fez da sua literatura um libelo contra heranças da escravidão, resistentes até hoje.
Além de ser imprescindível para a formação de cidadãos, educação liberta e pode se constituir também num instrumento contra essa indignidade chamada racismo. Por isso, num país em que a maioria dos Estados despende hoje mais recursos com Previdência do que com ensino e em que a crise fiscal afeta ainda mais as já escassas verbas destinadas à área, o debate sobre o tema precisa ser permanente. Nenhum país, até hoje, conseguiu se incluir entre os mais avançados sem assegurar educação de qualidade e o Brasil não tem como se constituir em exceção.
O manifesto da professora Diva não pode se constituir apenas em notícia ou material para compartilhamento em redes sociais. Precisa contribuir também, de forma didática, para que não apenas governantes, mas particularmente os pais, se convençam da importância de convencer os filhos a estudar sempre, mesmo diante das adversidades.