* Doutor em Educação
O pensamento privatista agora ataca professores municipais e usa o Ideb como arma. Recente estudo do Tribunal de Contas apontou a ineficiência do sistema municipal de educação e reportagem de ZH (30/6) afirmou "que em cidades em que os professores ganham menos do que a metade do que é pago em Porto Alegre, os alunos se saíram melhor nos exames". A mensagem subliminar é que, se os professores municipais recebem tão bem e seu trabalho não tem retorno, é porque... merecem receber menos! Nada mais equivocado!
É preciso criticar o mote que diz "é preciso cobrar resultados", cuja base são os resultados do Ideb. O indicador foca no resultado e não no processo. Simplifica a realidade e não considera o conjunto. É privatista, taylorista e neoliberal, defendido pelo mercado para impor nas mentes dos alunos a lógica do rendimento sobre os objetivos educacionais. Sua adoção só piora a educação porque obrigar professores a ensinar a decoreba para os alunos atingirem as metas.
Educar é uma relação social. Pelo Ideb, a culpa do fracasso é sempre do professor, quando é produto de um conjunto de fatores. Hoje, os professores fazem das tripas coração para ensinar alunos colados em seus celulares, vivem em um ambiente hostil devido ao projeto da Smed e são afetadas pela violência urbana que afeta a escola dia após dia. Só falta agora reduzir seu salário.
Os problemas da rede municipal estão relacionados à mutação da subjetividade discente provocada pela ascensão da indústria cultural e pela supremacia da sociedade da sensação (Christoph Türcke) contra os quais os professores lutam para ensinar a cada dia; aos efeitos na cultura escolar da violência na escola cada vez que um aluno morre sinalizando a inexistência de futuro para os jovens; na visão de que somente o rendimento, indicadores e nota do Ideb importam. Não é a escola que está fracassando, é nossa sociedade.
É preciso atacar a desigualdade e miséria de nossas populações de periferia que alimentam com seus filhos as escolas; recuperar as famílias em crise incapazes de transmitir valores básicos aos filhos e ampliar políticas públicas de combate ao desemprego. A visão neoliberal está preocupada em ajustar a subjetividade escolar às necessidades de formação de trabalhadores submissos: os professores nunca se protegeram por trás de um discurso salarial, o que tem em mente é mudar a sociedade, e por isso, eram revolucionários. Mas estão perdendo a guerra. Urge lutarmos todos juntos.