No Brasil existem 68 profissões regulamentadas e 15.007 sindicatos registrados. A Argentina, por exemplo, tem 91. Mas, obviamente, os sindicalistas não acham que um dos problemas do país é o excesso de sindicatos e de sectarismo e a contaminação que isso acarreta no debate público.
Desde 2004, um estudo da London School of Economics analisa 11.200 empresas de médio porte em 34 países, classificando-as numa escala de cinco pontos baseada em quão bem elas monitoram suas operações, estabelecem metas e premiam o desempenho. A média do Brasil é de 2,7, abaixo do Chile e do México, por exemplo. Mas, obviamente, os empresários não acham que um dos problemas do país, por incompetência, complacência ou má-fé, é o excesso de empresas mal geridas que vivem de chapéu na mão atrás dos governos, e a contaminação que isso acarreta no debate público.
Em termos de proporção do PIB, o judiciário brasileiro custa de quatro a seis vezes mais do que o judiciário de qualquer outro país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas, obviamente, os membros da Justiça brasileira não acham que um dos problemas do país é o excesso de mordomias e despesas do Poder Judiciário de fora do ajuste fiscal, e a contaminação que isso acarreta no debate público.
Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), é de apenas 25% o índice de abertura comercial do Brasil, que permanece com sua economia fechada em muitos setores, com sistema tributário complexo, infraestrutura precária e carência de formação de mão de obra qualificada, para não falar da estagnação econômica. Mas, obviamente, os governantes não acham que um dos problemas do país é o excesso de burocracia estatal e de gastos públicos mal pensados e alocados, e a contaminação que isso acarreta no debate público.
A Operação Lava-Jato já recuperou mais de R$ 11,5 bilhões desviados pela corrupção, e hoje temos presidentes, governadores, senadores e deputados indiciados, condenados e presos. Mas, obviamente, os partidos políticos não acham que um dos problemas do país é o excesso de corrupção e impunidade e a contaminação que isso acarreta no debate público.
Para todo mundo, a receita para melhorar o Brasil é a mesma: criticar outra corporação, entidade ou governo, reduzir despesas dos outros e manter os próprios privilégios. Mas, obviamente, ninguém acha que um dos problemas do país é o excesso de corporativismo e a contaminação que isso acarreta no debate público.