* Professor titular de Direito Constitucional da UFRGS e da Fundação Escola Superior do Ministério Público do RR (FMP)
No clima de polarização, para não dizer de antagonismo político em que vivemos, parece por vezes que a sensatez foi exilada e substituída pela paixão, que mais tende a obscurecer do que a iluminar a realidade, pelo menos em matéria que exija um mínimo de objetividade. Outro risco, igualmente, para quem procura, talvez numa busca muitas vezes infrutífera, esse mínimo de objetividade, constitui ceder ou, numa expressão mais técnica, mas talvez mais exata, subsumir-se à tradicional lógica (realidade?) da personalização da vida política, em que esta, a vida política, finalmente se reduz a todo momento a um confronto entre heróis, por um lado, e anti-heróis, por outro, cada lado do campo político dando sua versão, parcial, de quem corresponde a quê.
Antes de tudo, e independentemente das diferenças e dos gostos políticos, cabe o respeito aos princípios da presunção de inocência e do devido processo legal, entre outros, alguns dos múltiplos sustentáculos de uma sociedade democrática e do processo civilizatório. Sobretudo com relação a nosso eventual adversário, inimigo na versão daqueles cegos pela paixão.
O que o avanço das investigações e das denúncias tem revelado nos últimos anos no Brasil é o comprometimento de grande parte de nossa classe política com o que há de mais atrasado em termos de comportamento e de ideário políticos, algo que não escapava já há muito tempo aos mais argutos analistas de nossa história política e social, como o Raymundo Faoro de Os Donos do Poder. Talvez apenas não se percebesse ainda a dimensão real, para não dizer surreal desse atraso.
Fortalecer hoje a crença e o engajamento com a política e a democracia, instaurar a boa política democrática, implicam, contra inclusive qualquer alternativa salvacionista ou autoritária, aprofundarem-se as investigações e as responsabilizações, respeitados, como já enfatizado, os parâmetros legais e constitucionais.