* Jornalista, escritor e biólogo
Quando me deparei com a notícia de que estudantes da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo-RS, promoveram a festa temática "Se nada der certo", pensei que era brincadeira. Muitos dos jovens estavam fantasiados de faxineiro, mecânico, vendedores de lojas, ambulantes e outras profissões que, na ótica dos alunos, seria a última saída na vida de alguém em que nada deu certo.
Fiquei um tempo refletindo. Primeiro, por saber que aqueles jovens, a quem muitos xingaram de vagabundos, burguesinhos, e uma série de adjetivos que não posso aqui escrever, apenas refletiam o pensamento enraizado em nossa cultura. Eles, de certa forma, apenas repetiram o que sempre ouviram, mesmo sem entender o que significava.
Vivemos numa sociedade de castas invisíveis, que enxerga as pessoas sob este prisma: quem deu certo e quem não deu. Quem se enquadra e quem é diferente. Quem merece respeito e quem deve ser invisível. Somos frutos desta sociedade doente, que sempre busca tipificar, categorizar e rotular as pessoas como objetos. Uma sociedade que não vê o valor do caráter, mas o preço da individualidade e do seu padrão aceitável.
Também fiquei abismado por esta "festa" ter ocorrido numa escola. E o pior: numa instituição ligada à religião. A nota de esclarecimento da instituição: "Atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto a conscientização da importância de pensar alternativas no caso de não sucesso no vestibular". Sensibilizar em prol do preconceito? Seria isso?
Fico com receio de como as coisas estão caminhando. Os valores do respeito, da empatia, do entender o próximo se perderam em discursos discriminatórios, em palavras de ódio, em segregações que se apoiam em preconceitos. Qual o preço que pagaremos por continuarmos a insistir em pensamentos preconceituosos de quem dá e quem não dá certo? Uma sociedade assim, com certeza, não deu.