* Médico
Uma Constituição, pela importância que representa para uma nação, nunca deveria ser elaborada sob a regência da emoção, como ocorreu com a nossa. No afã de nos distanciarmos de um período restritivo, não tivemos a necessária maturidade para evitarmos a criação de normas excessivamente liberais, sem a previsão de mecanismos revisionais, hoje absolutamente vitais para o desenvolvimento do país. O exemplo mais agudo destas distorções encontra-se no nosso sistema legislativo.
Não existem doutrinas ideológicas que sustentem diferenças de conteúdos programáticos capazes de justificar a existência de mais de trinta partidos políticos. Eles hoje se tornaram meros chantagistas do poder executivo. Com um escandaloso número de assessores, os mais de 500 deputados e 80 senadores só conseguiram ao longo de quase 30 anos de vigência constitucional transformar o sistema legislativo na mais sórdida e corrupta instituição brasileira. É fato que existem exceções, mas foram incapazes de alijar as laranjas podres que contaminaram o balaio.
A política deixou de ser uma atividade voltada ao bem comum para se tornar uma profissão altamente rentável, que criou uma casta de profissionais que não a querem deixar de jeito nenhum, pois não existe nenhum emprego tão majestoso e bem remunerado como esse em nenhuma atividade do setor produtivo. Por tudo isso, a relação entre o custo e o benefício da nossa câmara e senado federal que há muito tempo já estava desequilibrada, hoje está insuportável. Todas nações que passaram por grandes crises econômicas ou até por guerras, saíram delas com o comprometimento de todos segmentos sociais e institucionais. Como impingir alterações na legislação vigente que afetarão toda classe trabalhadora mantendo 28 ministérios e um Legislativo federal inchado, caro e ineficiente?
Em medicina, temos às vezes de amputar um membro ou extirpar um órgão para salvarmos um paciente. Urge que se faça uma revisão constitucional profunda, com uma constituinte sem políticos, que mude de forma real o sistema representativo brasileiro, pois ainda há tempo para salvarmos nosso querido país. Mas isso terá de partir de nós, sociedade civil, por que eles jamais o farão.