Hoje em dia, o termo "digital" pode significar muitas coisas e, no entanto, é fácil constatar que ele tem os dias contados. O digital vai morrer, assim como, atualmente, ninguém mais fala em eletrônica ou informática. São palavras que ficaram anacrônicas, assim como ficará chamar algo de "digital". A aceleração do mundo e o avanço da tecnologia vão igualar a internet à luz elétrica: você vai usar cotidianamente sem racionalizar como funciona, o que está por detrás, quanto custa, de fato, para acessar. Vai ser simples, instantâneo e acessível, na hora em que quiser, no instante em que pedir e em qualquer lugar. As coisas conversarão entre si e os robôs mandarão nos carros e em outros aparelhos, assim como já mandam nos aviões, por exemplo. E tudo isso está logo ali na esquina.
Mas, calma lá: este não é um texto dizendo que o digital vai mandar em nossas vidas. Sim, o mundo será cada vez mais digital, e ele será tão cotidiano que sequer usaremos esta palavra. Mas o mundo nunca será só digital. Por uma simples razão: o mundo nunca será uma coisa só, jamais será homogêneo, único, sólido, como se fosse uma equação indivisível. Ao lado da inovação, da robótica, do Big Data, é preciso não esquecer de ponderar sociologia, economia, política. É por isso que soa uma bobagem, até ingênua, o vaticínio de certos entendidos em marketing, estejam em clientes, consultorias ou agências, de que a mídia de massa está morrendo, que tudo será digital, que tudo será feito e visto no celular. É bobagem porque, apesar da chegada de uma geração puramente online, da onipresença do celular e do crescimento exponencial da tecnologia, as pessoas continuarão sendo pessoas, encantadas por histórias que as emocionem, instiguem, provoquem e despertem sentimentos e ações relevantes – e vão continuar consumindo isso em qualquer tamanho de tela e em qualquer canal. Nenhuma mídia vai acabar porque tudo será mídia. É, também, uma visão ingênua, porque afronta a lógica: nada no mundo é distribuído de forma homogênea. O mundo é desigual e as pessoas são desiguais. O consumo de TV, rádio, jornal, internet e celular continuará sendo desigual como qualquer outro tipo de consumo, seja de livros, água, xampu, remédios, esgoto ou eletricidade. O Brasil é diferente da Inglaterra, o Nordeste é diferente do Sul, eu sou diferente de você, o você de hoje é diferente do você de alguns anos atrás.
A natureza do mundo é mudar. Mas ser um mundo heterogêneo, complexo e diverso também é da sua natureza.