Estive na semana passada no Festival Mundial de Publicidade de Gramado. Na palestra em que fui debatedor, Andre Kassu, sócio e diretor de criação da agência CP+B Brasil, disse uma frase que continua retumbando nos meus ouvidos: "competir como concorrentes que puxam o mercado para cima, e não como inimigo que empurra o outro para baixo". Pense um pouco sobre a profundidade e beleza desta frase, e sua relevância para o mundo dos negócios de hoje. Pense em como é difícil encontrar concorrentes que sabem unir forças em prol da sua indústria, abrindo mão de necessidades individuais em nome de um ganho coletivo. Esta deveria ser a regra, e não a exceção, em um mundo cada vez mais colaborativo, integrado e sem fronteiras. No mundo moderno, competição e colaboração deveriam andar de mãos dadas, cada uma em seu tempo e no seu devido lugar. Adversários empresariais deveriam, sempre, puxar o seu mercado para cima, em qualquer movimento. Porque quando o todo cresce, as partes crescem. Já o oposto quase nunca é verdadeiro.
E se você não quer acreditar em mim, sugiro o exemplo de alguém bem mais inspirador. Depois de ouvir a frase do Kassu, outro episódio no final de semana evidenciou o que é construir mercado. E não foi um exemplo empresarial, embora também seja. Lewis Hamilton fez sua 65º pole position no Grande Prêmio do Canadá de Fórmula-1. Igualou a marca do seu maior ídolo, Ayrton Senna. E eis que, ao final do treino classificatório, recebeu de presente do Instituto Ayrton Senna o capacete do seu ídolo, como homenagem por ter alcançado a mesma marca do brasileiro. Hamilton, claro, se emocionou. Um fã que sabe ser fã de um ídolo que sabe ser ídolo. O Instituto Ayrton Senna, em um simples gesto, não apenas soube manter viva a imagem e o legado do piloto brasileiro, mas também deixou claro que o esporte é maior do que o esportista, que a corrida é maior do que qualquer piloto, que a Fórmula-1 cresce quando outros crescem com ela e alimentam a história que a fez chegar onde chegou. Hamilton chegou lá porque antes dele Ayrton Senna chegou lá. E antes de Senna, outros. Todo mercado é uma soma de partes ao longo da história.
Quem não se entende como parte de um todo geralmente se entende como a melhor das partes. E quase nunca o é.