O Dia do Trabalho, lembrado ontem, levou o presidente Michel Temer a alegar que "o diálogo é a palavra de ordem", serviu para reafirmar a falta de consciência de políticos em geral sobre o significado das reformas para o país, mas mostrou sobretudo a perda de protagonismo dos sindicatos. Nem o governo nem os parlamentares conseguem articular um discurso convincente em favor das mudanças – vistas com desconfiança particularmente pela faixa mais esclarecida da população, conforme pesquisa Datafolha. E os líderes sindicais ratificaram nos palanques, para um público mais voltado a seus interesses particulares, que se limitam a rejeitar quaisquer propostas, sem conseguir articular alternativas coerentes.
A ausência de consensos sobre as mudanças entre quem negocia pelos trabalhadores seria preocupante mesmo se o país não estivesse às voltas com uma crise política e econômica que tem como consequência mais cruel justamente um saldo de mais de 14 milhões de desempregados. Um dos poucos pontos em comum é a defesa da contribuição sindical obrigatória, que nos anos 1980 chegou a ser criticada até mesmo por entidades ligadas ao PT e pela Central Única dos Trabalhadores (CUT). Hoje, esse é um instrumento de clientelismo e de deformação do modelo sindical. Só nos últimos cinco anos, cerca de 17 mil entidades consumiram R$ 16 bilhões desses recursos que, sem a transparência necessária, servem para reforçar uma casta sindical com pouca relação com as bases.
Como as mudanças na legislação trabalhista afetam inclusive os sindicatos, esse é o momento de reinvenção também para quem alega representar os trabalhadores. O que está sendo decidido não é só o futuro das relações trabalhistas, mas também o do emprego. Os acertos e equívocos dos interlocutores vão afetar todos os brasileiros, que precisam ficar atentos a como cada um vai se posicionar diante da questão.