A terceira troca no Ministério da Justiça em pouco mais de um ano, dois dias depois de uma mudança no comando do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), é uma sinalização de preocupante falta de firmeza do governo, titubeante e atordoado pela crise deflagrada pelas gravações de Joesley Batista. Osmar Serraglio, um inexpressivo deputado e um ministro da Justiça apagado, era o exemplo de escolha política concebida para apaziguar a base no Congresso. A nomeação do jurista Torquato Jardim mostra uma opção pela biografia sólida, assim como foi a indicação do economista Paulo Rabello de Castro para a presidência do BNDES. No entanto, é preciso manter a guarda em alta. No caso do novo ministro da Justiça, o país tem a esperar que não interfira no curso das investigações da força-tarefa da Lava-Jato, hoje cercada de pressões por todos os lados.
Até mesmo para dissipar ilações num cenário politicamente conturbado, um dos primeiros compromissos a ser assumido pelo novo ministro da Justiça deveria ser a garantia de recuperar pelo menos parte dos recursos que foram retirados da Polícia Federal. Justamente num momento crucial para as investigações, a instituição encontra-se hoje financeiramente desidratada, o que pode afetar operações com potencial para devolver bilhões de reais aos cofres públicos.
A particularidade de a troca de comando numa área ligada diretamente às investigações ter sido feita de forma a preservar o foro privilegiado do deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), flagrado ao receber uma mala com R$ 500 mil, reforça a importância de posicionamentos firmes por parte do novo ministro da Justiça. No comando do Ministério da Transparência, agora a ser ocupado por Osmar Serraglio, Torquato Jardim levantara dúvidas sobre as delações premiadas, além de fazer ressalvas ao fim do foro privilegiado, um mecanismo que, na prática, gera impunidade.
O poder público não pode passar a ideia de estar se rendendo a pressões de uma elite política envolvida em fraudes. O país já está às voltas com uma crise política e econômica de efeitos explosivos, que impactam diretamente toda a população. Eventuais ameaças ao combate à corrupção neste momento decisivo das investigações gerariam ainda mais frustração à sociedade. É importante que o novo ministro, Torquato Jardim, tenha uma dimensão clara desses riscos.