A grosso modo, costumamos associar a história política da polarização partidária no Brasil para classificar o mundo da vida com a dicotomia direita/esquerda. As postulações que norteiam o imaginário popular parecem quase sempre generalizantes e fundadas no senso comum, impondo "rótulos" de um lado a sujeitos de uma suposta direita habitada por "coxinhas", cuja gíria tem origem paulistana e que descreve uma pessoa "certinha", que age em defesa da liberdade de expressão. De outro lado, sujeitos embandeirados de vermelho, identificados como "petralhas", notoriamente marcados por um companheirismo de ideais ditos de esquerda, supostamente os únicos defensores da igualdade e do direito de todos.
O percurso argumentativo deste artigo encontra-se centrado na possibilidade de vida além desta visão dicotômica de direita e de esquerda, que talvez tenha inspiração na recente eleição da França, cujos eleitores escolheram democraticamente e de forma majoritária o centrista Emmanuel Macron para presidente. No Brasil, o voto é obrigatório e o cenário a cada ano eleitoral parece ser o mesmo. Nossos eleitores deixam de comparecer às urnas, votam em branco ou anulam seu voto em uma proporção cada vez maior. Daí talvez a razão para a lógica de que exista vida além da direita e da esquerda.
Enquanto a política não sofrer uma reforma neste nosso país que leve à superação de vícios, continuaremos distantes dos eleitores e suas reais vontades, distantes daquilo em que se fundamenta a democracia contemporânea: a liberdade e a igualdade juntas. A polarização política é a prova viva do fracasso no mundo e talvez o maior exemplo seja a situação na Síria, que demonstra um objetivo único, de afastar aqueles que não pensam da mesma forma e, por isso, lhes resta jogar-se no oceano. O radical é sempre o sujeito que nega o debate e a razão.
Ainda há tempo de que os partidos políticos no Brasil reescrevam essa história e de salvar essa instituição, a fim de formar agentes capazes de
representar algo que vá além do puro assistencialismo social e da decadente gerência da gestão pública em que os governos se afundam. É hora de superar os vícios de um individualismo metodológico em que se aprendeu a fazer política para poucos e, sempre para os mesmos, sem proporcionar nenhuma possibilidade real àqueles que ainda, enquanto última alternativa, acreditam se não mais na política e nos políticos, pelo menos acreditam em seu país.