A repercussão do conteúdo das delações do casal de marqueteiros do PT permite uma reflexão que vai além do âmbito da Lava-Jato. Às vésperas de mais um ano eleitoral, os descalabros revelados por João Santana e Mônica Moura chamam a atenção para velhas práticas de campanha. Nem o Rio Grande do Sul, nem cidades como Porto Alegre estariam hoje numa situação de insolvência se os candidatos a gestores do Estado e da Capital em eleições anteriores tivessem se comprometido mais em fazer o necessário para ajustar as finanças e se preocupado menos em agradar aos eleitores. Em todos os níveis da federação, incluindo o nacional, quem acaba arcando com o ônus final são os contribuintes.
É o que se constata agora, com a confirmação de que o dinheiro pago como impostos percorre caminhos obscuros para bancar candidatos muitas vezes artificiais, dissociados da realidade a ser enfrentada na eventualidade de serem eleitos. Essa é uma das explicações para o fato de o país estar às voltas com uma crise econômica que pune particularmente a população de menor renda. No setor público, o impacto fica visível na queda das receitas do Estado e de municípios, dificultando até mesmo o pagamento em dia dos servidores.
Cada vez mais, é preciso que candidatos a gestores públicos, em todas as instâncias da federação, se apresentem aos eleitores com discursos focados na realidade da máquina administrativa. Campanhas eleitorais não podem se destinar apenas a assegurar votos, com base em tendências apontadas por pesquisas e em estratégias de marqueteiros bem remunerados. Os eleitores precisam discernir quem busca apenas se eleger com um discurso demagógico de quem demonstra determinação de fazer o que realmente precisa ser feito.