Só há um perdedor nos confrontos de ontem em Brasília: a democracia. O caldo de convulsão nas ruas e dentro do Congresso favorece soluções de exceção. Impossível desassociar o que aconteceu na Esplanada dos Ministérios, incluindo até mesmo incêndios em prédios públicos, do que vem ocorrendo na esfera pública nacional. É o mesmo país, tenso e dividido.
Apesar dos nervos à flor da pele, não se pode perder a perspectiva de um futuro mais luminoso para o Brasil. Esta não é a hora dos incendiários, mas dos bombeiros. Os mesmos que, sintomaticamente, foram impedidos de chegar ao prédio em chamas do Ministério da Agricultura.
Vidros quebrados, fachadas pichadas, documentos destruídos, dentro dos ministérios em Brasília. Um quadro triste e inaceitável, que incide sobre o já frágil cenário político nacional. Não há relativização possível. Inaceitável, criminoso e sombrio. Nada menos do que isso.
Lamentavelmente, tanto a Câmara quanto o Senado, de onde se deveria esperar apelos de paz neste momento, vêm contribuindo para a exaltação dos ânimos. Sessões tensas, marcadas pela falta de serenidade, só reafirmam o descompromisso dos parlamentares com um país em busca de rumo.
Numa democracia, o direito à livre manifestação é sagrado, mas sempre dentro do limite da lei e do respeito às instituições. Violência é inaceitável. Esse tipo de ato não pode perturbar ainda mais um processo que é traumático, mas se desenvolve de forma democrática.
Calma, Brasil. A convulsão só nos empurrará mais para o fundo nas águas turbulentas das quais estamos tentando emergir.