* Ex-ministro da Advocacia-Geral da União
O Brasil vive uma crise sem precedentes. Muitas empresas estão sendo alvejadas pela Lava-Jato. Há milhões de pessoas afetadas pelo desemprego, talvez em decorrência de fórmulas econômicas que não funcionaram nos últimos anos. Nosso país enfrenta a pior crise já registrada após um boom econômico, se considerarmos que em 2010 houve o maior crescimento do seu PIB em 20 anos, em 7,5%. O problema não é apenas econômico, mas de redefinição de paradigmas. Na medicina, a palavra "crise" define o momento da evolução de uma doença para a cura ou para a morte. Na economia, seria a fase de transição entre um surto de prosperidade e outro de depressão, ou vice-versa.
A Lava-Jato desvendou uma rede de operações criminosas, corrupção e práticas ilícitas que se alimentou sistematicamente na ineficiência dos poderes públicos. A desconstrução dessas organizações criminosas somada ao diagnóstico das patologias conduzem a uma necessária catarse coletiva. A participação dos cidadãos, o controle da opinião pública, o ativismo das instituições republicanas e até mesmo alguns excessos na espetacularização dos processos são decorrências do regime democrático.
O equilíbrio das forças se dá, precisamente, na garantia de independência do Judiciário, que julga quem há de ser investigado e acusado por ilícitos, podendo reprimir abusos e distorções acusatórias. O Brasil revelou ao mundo uma agenda global anticorrupção, e isso não é pouco. Mostrou que suas instituições têm credibilidade e força. Na percepção da opinião pública internacional, estamos promovendo uma "faxina ética" em nosso próprio quintal.
Temos condições, com o respeito às regras do jogo, de promover o impeachment de um governante, e de avançar até mesmo sobre os que atualmente estão no poder, além de apurar responsabilidades de empresários e políticos do mais alto escalão da República. Houve quem tentasse minar a credibilidade do país no Exterior, mas a tese não vingou. O Brasil não é uma "republiqueta".