* Ex-prefeito de Pelotas, aluno de Gestão Pública da Universidade de Columbia, Nova York
Assim como acontece no resto do mundo, não são incomuns no Brasil debates com "receitas" conceituais para o bom desempenho da atividade pública. Muitas delas fixam-se na origem de quem desempenhará essa atividade, um político ou um técnico, seguidas, não raramente, de uma tentativa de negar a política – o que em nada colabora para dignificar uma atividade nobre e importante ou contribuir para melhorar a relação do brasileiro com ela.
O curioso é que não há nada mais político do que o sujeito, na política, dizer que não é político. Postei isso no Twitter dia desses e um seguidor emendou: "O político é tão político que, percebendo uma aversão aos políticos, se apressa em dizer que não é político".
Oportunismo à parte, na origem de qualquer processo ou ação, é a liderança política que ocupa o primeiro plano. Especialmente em cargos de chefia de executivo é essencial uma liderança efetiva, motivadora, para formar uma equipe eficiente e mobilizá-la na direção correta.
Como prefeito de Pelotas, procurei agir a partir de três princípios: a boa política, a boa gestão e a boa comunicação. A política é essencial para abrir caminhos e dar espaços à gestão técnica. A ausência dela dificulta a ação técnica. Sem falar que, numa sociedade democrática, a política é o anteparo para a conciliação de interesses legítimos.
Na política que eu persigo é preciso saber liderar e motivar uma equipe, mas é preciso criar uma rotina que coloque o governo na velocidade ideal para a entrega de resultados. O líder-gestor é a garantia de que esses resultados serão entregues. E entrega de resultados é o que as sociedades mais clamam.
Quantas vezes o leitor já leu ou ouviu esta pergunta em entrevistas: "O seu secretariado será técnico ou político?" A verdade é que a questão é irrelevante. É a conciliação entre capacidade da liderança, a parte política, e o domínio da gestão, a capacidade técnica, que determinará o sucesso das novas gerações de políticos e a melhora da condição de vida dos brasileiros.
Não há um dilema verdadeiro nesse impasse de liderança versus gestão porque não há impasse, não é preciso escolher. Os dois predicados são complementares, precisam andar juntos para que a liderança possa qualificar seu mandato e corresponder às expectativas dos eleitores. Como no provérbio chinês, não importa a cor do gato. Importa que ele cace ratos.