Afonso Arinos de Melo Franco – escritor, político e constitucionalista mineiro – analisava a crise institucional brasileira após a renúncia de Jânio Quadros, cujo desfecho redundou no regime militar de 1964. Numa série de artigos publicados em 1965, ele descrevia, profeticamente, a evolução da crise brasileira.
De lá pra cá, o regime militar decaiu, a Constituição cidadã "prosperou", os direitos sociais foram ampliados (art. 6º, da CRFB/88), as liberdades públicas protegidas (art. 5º, da CRFB/88), mas a crise não cessou. Pelo contrário, assistimos a uma crise mais aguda, uma corrupção mais avassaladora, uma promiscuidade entre o público e o privado que chegou a ser institucionalizada num tal departamento de propina da Odebrecht. Eis o chavão: "Nada é tão ruim que não possa piorar mais ainda".
Até ontem, a culpa era de todos os partidos, à exceção do PT. Depois, passou a ser culpa exclusiva do PT. Hoje, a responsabilidade cai no colo do PMDB, amanhã será novamente do PSDB. Ou melhor, a culpa era do Fernando Henrique Cardoso, do Lula, da Dilma, hoje é do Temer, mas podia ser do Aécio. Resumindo: a culpa recai no partido que tripula o Estado, ou pior, recai na pessoa do presidente.
Jamais se culpam as instituições, nunca se responsabilizam o sistema eleitoral corruptor, o sistema partidário promíscuo, o custo bilionário das campanhas eleitorais, a fortuna para se ocupar o espaço televisivo, a federação forjada e centrípeta de nossa República, o presidencialismo de coalização (que poderia ser apelidado de presidencialismo de corrupção). Enfim, é mais fácil atribuir o erro às pessoas – que estão cada vez mais descartáveis – do que às instituições.
O problema enfrentado agora é que tal substituição parece não melhorar muito o cenário político brasileiro. Dilma, Temer, presidentes da Câmara e do Senado (ambos investigados na Operação Lava-Jato). O vírus da corrupção (bastante democrático) proliferou de tal maneira, que fica difícil encontrar o bastião da moralidade, diante de tantos nomes, diante de tantas listas. Quem escapa da lista se vangloria. Vai ao palanque político dizer "eu sou ficha limpa!", "meu nome não foi veiculado na Operação Lava-Jato!". O que deveria ser a regra está virando exceção. O problema não está tanto na ficha limpa, mas, sim, no sistema eleitoral sujo. Nem há tantos corruptos quanto um sistema com matriz corruptora. Eleger-se nesse nosso sistema político é o mal capital. Ou alteramos o sistema político brasileiro, ou a política não se altera!