O governo gaúcho demorou tanto para pensar seriamente em um plebiscito sobre a venda das estatais, que a solução pode virar problema. A proximidade da eleição de 2018 pressiona os deputados, que temem a reação das corporações e um eventual desgaste traduzido em perda de votos. Com a base enfraquecida, restará ao Piratini uma última cartada: submeter o tema a um referendo popular, dois anos e 10 meses depois da posse.
O governo demorou, entre outros fatores, porque prevaleceu internamente uma visão política míope: a de que falar em privatizações atrapalharia os candidatos da base governista nas eleições municipais do ano passado. Foi um erro capital. Nelson Marchezan se elegeu em Porto Alegre admitindo, por exemplo, vender a Carris se ela não recuperasse sua eficiência, e João Doria se consagrou em São Paulo com um discurso francamente a favor da saída da prefeitura de setores que não lhe dizem respeito.
O Rio Grande do Sul, há muito, perdeu a capacidade de prestar serviços com o mínimo de qualidade, e reformar o Estado é um imperativo óbvio. Não se trata de uma questão ideológica, embora visões diferentes de mundo sejam sempre relevantes e legítimas. Apesar de complexo, o caminho do plebiscito parece ser a última alternativa para se decidir a questão da privatização ou federalização da CEEE, da CRM e da Sulgás. O Rio Grande do Sul já perdeu décadas de discussões infindáveis – e pressões sem fim – para manter a estrutura do Estado intocada, mesmo que na bancarrota como hoje.
Até agora, o governador Sartori – que votou a favor da lei dos plebiscitos quando era deputado – não encontrou um caminho viável para enxugar e arejar a máquina emperrada. Está ficando com menos tempo e com menos alternativas. Se conseguir a necessária autorização para que o governo concentre os escassos recursos em saúde, educação e segurança, o plebiscito será mais que uma decisão política: ele definirá com que perfil de Estado os gaúchos querem conviver pelas gerações futuras.