Para Alain Deneault, professor de Filosofia Política da Universidade de Montreal, há um novo agente de poder tomando posse das instituições politicas. São governantes, chefes de países, governadores e prefeitos que encarnam um poder novo, de natureza perversa, contra a qual a esquerda se confronta. O poder psicótico é representado por Hitler e Stálin, onde a autoridade grita e berra ordens. O poder neurótico é representado por De Gaulle, onde o cidadão sofre mas acredita nele. O poder perverso é um poder psicótico disfarçado, é aquele que trabalha para expressar seu poder através de uma ordem legitima.
Pense numa liderança política no Brasil hoje. O perverso é aquele que deixa todos loucos, reina criando sua própria ordem e desestabiliza todos os atores sociais com os quais se relaciona. O líder perverso perturba a ordem de profissionais da educação, servidores públicos e trabalhadores em geral "a perversão consiste em levar vantagem em tudo. Isso porque o poder parece não estar em parte alguma", diz Deneault. Por isso, afirma o filósofo, é que o perverso no mundo atual, além das lideranças, são as decisões de governo baseadas no mundo econômico, mas também as de sindicatos que só pensam em garantir empregos e ONGs só querem fazer parte de um projeto qualquer.
É que a perversão na política é, no fundo, a arte que governantes fazem para mudar o aparato jurídico para pior, tornando-o cada vez mais permissivo sempre para atender os banqueiros de plantão que são, no fundo, quem terminam por fazer as leis, que permitem fazer aqui o que é proibido em outro lugar. O governante perverso os representa porque vive às avessas do contrato social, para eles o Estado não existe para nos fazer sair da lei da selva, mas sim para o inverso. Chamamos isso de capitalismo depredador, onde as leis do mercado são apresentadas como naturais e desejáveis quando não são, são apenas a forma de se apropriar de dispositivos legislativos para promover o fim da consciência moral comum e da solidariedade social, substituídos por lobbies que transformam empresas em atores cidadãos, como se fossem iguais, quando não são.
Pense em reformas que são iniciativas governamentais. Pense em medidas de governo de um estado contrários aos interesses de seus cidadãos. Pense em ações de um prefeito contrariando categorias com larga história e legitimidade. Não há um político perverso no poder perto de você?