Soterrada por nomes e mais nomes, listas e mais listas, a população tem dificuldade para acompanhar os acontecimentos e discernir quem é quem neste imbróglio todo. Apela então comodamente para a generalização, considerando todos os políticos corruptos, o que é um grave erro, mesmo porque não estão todos indiciados.
Acompanha as declarações dos envolvidos e seus partidos que repetem monotonamente que "todas as doações de campanha foram legais, registradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral".
Para tentar entender tudo isso, didaticamente vamos reproduzir a campanha do candidato A e do B.
O candidato A, iniciante na política, não tem recursos suficientes para bancar sua campanha eleitoral, que custa muito caro, então vai pessoalmente ou através de colaboradores procurar doadores para sua campanha, já que o fundo partidário, repartido entre todos os candidatos, não cobre o custo. Como se trata de um iniciante, portanto sem poder, vai ter muita dificuldade para captar recursos e os pouco recebidos são todos legais, "por dentro", e podem ser tranquilamente declarados à Justiça Eleitoral – estas são as contribuições de campanha.
Já o candidato B é um veterano na política, exerceu vários cargos diretivos e portanto tem bastante ascendência sobre seus pares. Quando seus procuradores vão rastrear recursos, e às vezes nem necessitam porque são contatados pelas empresas, cria-se uma estratégia de oportunidades bilateral. Para o candidato, uma soma considerável de dinheiro "por fora", que não vai ser declarada e pode servir a diversos fins, como enriquecimento pessoal – esta é a propina que vai propiciar à empresa ter várias vantagens, como contratos polpudos com o governo mediante "intervenção" do seu beneficiado. A declaração deste, portanto, à Justiça Eleitoral, é obviamente maquiada porque contém somente parte do recebido. As empresas, por sua vez, "embutem" a propina no orçamento apresentado, superfaturando-o, que será aprovado para o bem de todos menos o do país.
Isto tudo vinha funcionando assim até que surgiram as delações premiadas mediante acordo de redução de pena com o Ministério Público, e a verdade finalmente veio à tona.
Lembrando que ainda resta um longo caminho de investigado a denunciado e a réu, temos uma oportunidade de ouro para sanear este país.
Ou não.