Não há democracia sem partidos políticos fortes e confiáveis. Essa verdade histórica está sendo utilizada como pretexto para a articulação entre lideranças das três principais agremiações nacionais – Partido dos Trabalhadores (PT), Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) – no sentido de minimizar os efeitos fulminantes da Lava-Jato e das recentes gravações dos delatores da Odebrecht, que comprometem políticos de 13 siglas. Até mesmo um possível pacto entre o presidente Michel Temer e os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique estava sendo cogitado antes do feriadão de Páscoa, sob o argumento de que o enfraquecimento dos grandes partidos abriria espaço para aventureiros.
A preocupação é legítima. Mas um pré-requisito para o debate é definir claramente quem são os responsáveis pela crise das legendas tradicionais. Certamente não se pode atribuir aos investigadores da Lava-Jato essa responsabilidade. A culpa maior – se não única – é das próprias agremiações, que transformaram a propina e as doações ilegais em rotina no financiamento de campanhas eleitorais. Os próprios partidos se encarregavam de receber dinheiro mal havido e distribuí-lo entre seus filiados, até como estratégia para legitimar ilegalidades. Basta observar a quantidade de investigados que utiliza como desculpa o fato de que os recursos empregados em suas campanhas foram repassados pelas legendas que representam, sem o seu conhecimento sobre a origem das doações.
Essa é a velha política que está sendo colocada em xeque e que, inquestionavelmente, precisa ser reformulada. Se quiserem sobreviver e manter a importância que vinham desfrutando no cenário político nacional, as grandes agremiações devem primeiramente revisar suas condutas e fechar as portas para jeitinhos, caixa 2 e relações promíscuas com doadores de recursos. O pacto só terá sentido se partir de um mea-culpa das lideranças partidárias e incluir compromissos mensuráveis com padrões éticos que a política brasileira precisa adotar para recuperar a confiança da população.