Antes mesmo de sair da Comissão Especial da Câmara dos Deputados, primeiro passo de sua tramitação no Congresso, a reforma da Previdência já sofreu tantas alterações, que a economia prevista de R$ 678 bilhões em 10 anos sofreu uma redução de mais de R$ 115 bilhões, segundo os cálculos da Casa Civil. E as concessões feitas pelo governo para agradar à base aliada ainda são insuficientes: de acordo com levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo na semana passada, apenas 94 votos estavam confirmados dos 308 necessários para a aprovação. Só na base governista, 60% dos parlamentares manifestam-se contrários à reforma.
Temerosos de contrariar o eleitorado faltando pouco mais de um ano para as próximas eleições, os deputados querem reformar tudo, até mesmo pontos que o governo considerava inegociáveis. Agora já nem considera mais. No final da semana passada, o Planalto autorizou suas lideranças na Câmara a alterarem mais cinco partes do texto base, entre as quais a regra de transição. Até mesmo o núcleo da reforma, que é a fixação da idade mínima para a aposentadoria em 65 anos, está sendo rejeitado pela maioria dos parlamentares.
A resistência do parlamento reflete exatamente a insegurança da população em relação à principal reforma estrutural exigida pela equipe econômica para equilibrar as finanças públicas. Em princípio, os brasileiros não querem mudar. Temem perder o pouco que têm e não acreditam que a situação vá piorar se nada for feito. Este impasse demonstra claramente que o desafio de convencimento do governo não pode se restringir aos parlamentares. Antes, é preciso sensibilizar a população sobre a necessidade e a urgência das modificações propostas.