Pressionado pelas recentes delações dos executivos da Odebrecht, o governo procura desviar as atenções da sociedade para a reforma da Previdência e está tentando convencer o Congresso de que esse é o melhor caminho para o país no momento. Ainda que pareça apenas um subterfúgio para ocultar a realidade com uma agenda positiva, é adequado que o governo e o parlamento concentrem esforços para destravar as reformas estruturais necessárias à retomada das atividades econômicas e do desenvolvimento.
Porém, ao flexibilizar vários pontos da reforma da Previdência, tornando-a menos rigorosa para determinados segmentos, especialmente para os que demonstram maior poder de reação, o governo confunde a população, amplia as dúvidas sobre o assunto e dá munição aos críticos para a campanha de desconstrução do projeto.
A verdade é que o Brasil, para almejar um futuro digno, precisa tanto da Operação Lava-Jato quanto das reformas em tramitação. Não pode haver retrocesso na investigação e na punição de todos os que degradaram a política e transformaram a administração pública num balcão de negócios escusos. Da mesma forma, são inadiáveis os ajustes das contas públicas, o equilíbrio do sistema previdenciário e a modernização das leis trabalhistas.
Ainda que governantes e parlamentares citados por delatores estejam sob suspeição, todos mantêm a legitimidade para o exercício de suas atribuições enquanto não forem condenados pela Justiça. E sempre é bom lembrar que ninguém pode ser considerado culpado apenas por ter sido mencionado por denunciantes. Além disso, deve-se reconhecer que nem todos os políticos estão sob suspeição, embora a tendência de cidadãos compreensivelmente indignados seja a generalização.
Portanto, não há incompatibilidade em tocar simultaneamente a reforma da Previdência e a Operação Lava-Jato.