Vazaram tantas versões do depoimento do empresário Marcelo Odebrecht ao Tribunal Superior Eleitoral, que teria sido melhor para o país se a audiência de quatro horas tivesse sido transmitida ao vivo. Só assim os brasileiros poderiam eliminar as dúvidas sobre o interesse dos informantes, pessoas que tiveram acesso à conversa entre o depoente e o juiz, em divulgar apenas o que favorece seus protegidos ou prejudica adversários políticos. Ainda assim, o essencial não está sendo desmentido por ninguém: a confissão de que Odebrecht pagou propina a candidatos presidenciais e a outros políticos em troca de favorecimentos.
Particularmente chocante é a revelação de que R$ 50 milhões, dos R$ 150 milhões doados pela Odebrecht à chapa Dilma/Temer, seriam uma espécie de contrapartida pela Medida Provisória do Refis, editada em 2009 durante o governo Lula. A referida MP beneficiou a Braskem, empresa controlada pelo Grupo Odebrecht.
Todos os citados desmentem, como tem acontecido desde que a Operação Lava-Jato começou a colher depoimentos de delatores. Mas as condenações e os recursos devolvidos por alguns condenados não deixam dúvidas de que o país conviveu durante décadas com a promiscuidade entre o poder público e a iniciativa privada, que institucionalizou a corrupção.
As confissões de Marcelo Odebrecht, que comandava a maior empreiteira do país e o mais organizado departamento de propinas da história da República, ainda precisam passar por criteriosa checagem, mas também podem ser o ponto de inflexão nesse processo doloroso que parece não ter mais fim. O Brasil precisa virar esta página vergonhosa, mas sem deixar de responsabilizar e punir na forma da lei todos aqueles que se aproveitaram do descontrole para subtrair a nação.