Com o fim do Carnaval, do período de férias, de recesso nos poderes e nas atividades públicas, o país volta à realidade de uma economia ainda estagnada e um governo visivelmente desorientado. Este mês será decisivo para a administração Michel Temer encontrar seu rumo e também para a classe política e as próprias instituições se reorganizarem, convencendo a sociedade da disposição de fazerem o que o país precisa. Os sinais de descontentamento popular com a demora de resultados favoráveis na economia, manifestados até mesmo em blocos carnavalescos, demonstram que os brasileiros estão impacientes e não se mostram dispostos a esperar muito mais tempo por dias melhores.
A situação não será revertida com facilidade. Além da gravidade da crise, há a particularidade de o país viver a expectativa do desfecho de uma etapa importante da Operação Lava-Jato, que investiga aliados do governo e poderá levantar o sigilo integral ou parcial dos 77 ex-diretores e ex-executivos da Odebrecht.
Mesmo nesse ambiente adverso, porém, o presidente da República, com sua equipe de governo desfalcada por doenças e deserções, precisará dar andamento a questões que são emergenciais e dependem do aval do Congresso. Entre elas, estão a negociação da dívida dos Estados e a necessidade de colocar em andamento a reforma da Previdência, que começa a suscitar resistências de todos os lados.
Os desafios de março só não são maiores do que o próprio país, que já tem novas manifestações de rua programadas para este mês. Mesmo sob turbulência, Planalto e Congresso precisam demonstrar logo um mínimo de capacidade de rearticulação para livrar os brasileiros de um cenário marcado hoje pelo derrotismo.