Ao sair de sua sala, no último dia de aula antes da aposentadoria, o professor Luiz Antônio Jarcovis ficou surpreso. Os corredores da Escola Estadual Almirante Custódio José de Mello, onde trabalhava, no interior de São Paulo, estavam repletos de alunos que aplaudiram o percurso do docente em sua despedida do magistério. A homenagem emocionante a Jarcovis foi registrada em vídeo e ganhou as redes sociais, alcançando mais de 7 mil compartilhamentos, em uma semana.
O gesto de reconhecimento ao trabalho do professor chega em momento oportuno. Nas reformas recentes na educação, como, por exemplo, a do Ensino Médio, os argumentos contrários ao conjunto das novas diretrizes apontam o problema da falta de diálogo com a comunidade escolar na discussão de pontos polêmicos. É evidente que o Ensino Médio precisa de mudanças, mas as discussões a respeito de flexibilização do currículo e novos itinerários formativos, entre outras pautas, devem ser submetidas a intenso debate público, a fim de respeitar a essência da convergência democrática e um dos princípios básicos da própria Educação.
No entanto – e infelizmente –, o processo de redução da autonomia do professor em relação ao planejamento e desenvolvimento curricular é quase uma regra. O teórico Henry Giroux chega a falar de "pacotes à prova de professor", quando se refere ao conhecimento prêt-à-porter, subdividido em formas padronizadas e gerenciáveis para o consumo em avaliações predeterminadas. Em suma, racionalidades tecnocráticas separam os processos de conceitualização e organização curricular da implementação e execução prática desses mesmos processos.
Os aplausos ao professor Jarcovis devem ser vistos, por fim e especialmente, sob uma dimensão humana. Em épocas de solilóquios e discursos de ódio, os alunos e professores dessa escola pública nos ensinam que o respeito e o reconhecimento ao trabalho do outro é, por vezes, conteúdo imaterial que deve ser reaprendido constantemente.