O megaesquema descoberto pela Polícia Federal envolvendo pagamento de propina a fiscais do Ministério da Agricultura para que fizessem vista grossa, deixando os frigoríficos livres para vender até mesmo carne estragada, inclusive para merenda escolar e para o Exterior, é o que faltava para atestar o nível de dissolução moral no país. A operação desvendada pela Polícia Federal mostra o que pode ocorrer quando até mesmo postos-chaves do poder público, destinados a zelar pelos interesses da população, são ocupados por apadrinhados de partidos políticos. O aspecto mais aterrador revelado pela ação policial é justamente o de que uma parte do dinheiro ilícito gerado pelas falcatruas servia para financiar partidos políticos.
Só o conluio explícito entre poderosos do setor privado e políticos influentes pode explicar que o desrespeito à imagem do país e aos interesses dos consumidores possa ter ido tão longe. O fato de, entre as dezenas de empresas envolvidas, se encontrarem dois gigantes do setor, a JBS e a BRF, donas das marcas mais conhecidas no país, dá uma ideia do poder de influência nesse caso. Não por acaso, um dos dirigentes envolvidos no meio empresarial foi flagrado em escuta sendo tratado por "grande chefe" pelo hoje ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR).
É deplorável que corporações com atuação numa área tão sensível como a alimentação, frequentemente beneficiadas por financiamentos subsidiados, tenham chegado a esse ponto de deterioração. Perdem o país e os principais Estados produtores, mas sobretudo os consumidores, que não sabem mais em quem confiar.