As armas de fogo estiveram no centro das prioridades das experiências mais exitosas de redução da violência no mundo.
William Bratton, o famoso chefe de polícia que impulsionou a redução da violência em Nova York, conta em sua biografia que a gun strategy (estratégia das armas) foi a primeira das cinco grandes estratégias de policiamento inovadoras que ele implementou.
No início de 1994, Bratton determinou que a prioridade número 1 de toda a polícia de NY (tanto das investigações quanto das patrulhas) fosse identificar os grandes traficantes de armas e apreender o maior número possível de armas ilegais. Para isso, determinou que todos os presos com armas fossem interrogados detalhadamente sobre a origem daquela arma e essas informações enviadas para um único centro de inteligência. No final daquele ano, mais de 200 grandes traficantes de armas haviam sido presos e mais de 10 mil armas de fogo apreendidas. Entre 1993 e 1995, os homicídios com arma automática baixaram 40% e 2 mil pessoas a menos foram feridas por armas de fogo na cidade.
Em São Paulo, Estado onde os homicídios caíram mais de 80% em 16 anos, a retirada de armas de fogo de circulação foi uma grande prioridade do governo Mário Covas (PSDB), no período em que a violência começou a cair. São Paulo foi o Estado que mais incentivou a entrega voluntária de armas, com mais de 200 mil armas recolhidas, além de aumentar em 600% o número de revistas feitas pela PM entre 1997 e 2006, com o objetivo de apreender armas de fogo.
Em Pernambuco, na gestão de Eduardo Campos (PSB), que conseguiu reduzir os homicídios em 42% com o Pacto Pela Vida, foram estabelecidas metas e premiações em dinheiro para os policiais pela apreensões de armas de fogo ilegais. No Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame (durante um governo do PMDB) estruturou as UPPs e o Sistema Integrado de Monitoramento com o foco prioritário na apreensão de armas de fogo e conseguiu reduzir os homicídios em mais de 50% em 10 anos.
O objetivo de mostrar esses dados não é debater o direito individual de portar armas de fogo, mas, sim, demonstrar a necessidade que o RS elabore um grande Plano Estadual de Segurança, tecnicamente embasado, suprapartidário e com a união de todos os segmentos sociais, que tenha entre outras prioridades uma estratégia clara e transparente de repressão de armas ilegais.
Na ausência de um plano, ampliam-se ações pontuais e os espaços para discursos ideologizados, que não têm ajudado a reduzir a violência nas últimas duas décadas no RS.