A história da política se assemelha ao movimento de um pêndulo. Em determinados momentos, representantes e representados vão para um lado. Passado um tempo, lá estão eles na outra extremidade. O resultado das últimas eleições sacramentou uma guinada na opinião pública. Candidatos que ergueram bandeiras como eficiência, gestão, planejamento e controle de gastos venceram.
Com uma postura mais realista, negaram a possibilidade de determinados anseios da comunidade – inaugurando o "não" no debate público. Obtiveram êxito inclusive defendendo privatizações e PPPs, que eram considerados palavrões por parcela significativa da sociedade. Os tempos efetivamente mudaram.
Ao aprovar esse caminho, a população expressou com veemência a vontade de um perfil diferente de liderança. Menos político e mais gestor, com menos conversa e mais ação, com menos apelo emocional e mais racional. Comunicando de forma mais direta e aberta, sem tantos floreios. Há pouco mais de um mês, começou esse novo ciclo na administração pública.
Mas será que as pessoas estão realmente prontas para esse novo modelo? Aceitarão que as cidades sejam geridas com práticas da iniciativa privada, com metas e foco em resultados tangíveis? Em uma grave crise econômica, concordarão em fazer sacrifícios e abrir mão de benefícios para, lá na frente, colher os frutos? Saberão conviver com a aparente antipatia de um "não" para algo importante, mas financeiramente inviável? Compreenderão que o ajuste nas contas é a base mais sólida para políticas sociais ou sentirão saudades do Estado onipresente, mesmo que ineficiente?
Essas perguntas seguem em aberto e apenas com o tempo serão respondidas. Porém, é inegável: um avanço cultural relevante já aconteceu. O discurso populista saiu perdendo, e os atores da velha política precisarão se adaptar aos novos tempos, sob o risco de ficarem para trás. Os governos eleitos deverão provar sua disposição, cumprindo o que foi prometido. E cabe à população ter paciência, dando tempo para que os resultados apareçam – sem cair, mais uma vez, na tentação de que tudo é possível no setor público.