O protagonismo cada vez maior do Judiciário em questões políticas e do dia a dia do país transforma o Supremo Tribunal Federal no desaguadouro de todas as crises e no foco de expectativa dos brasileiros por uma nação mais digna e justa. Por isso, debate-se tanto a indicação de um ministro para complementar o quadro de julgadores desfalcado com a morte de Teori Zavascki. Por isso, apela-se à Corte para o equacionamento de questões que deveriam ser puramente administrativas, como a nomeação de um ministro pelo presidente da República. Por isso, há um temor generalizado com o risco de politização do principal tribunal do país.
O Supremo Tribunal Federal, por seu desempenho no mensalão, na própria Lava-Jato e em alguns temas importantes que o Legislativo não conseguiu resolver satisfatoriamente, conquistou a confiança da nação. Chegamos no país a uma situação impensável, que até virou motivo de brincadeira: mais gente sabendo de cor o nome dos 11 ministros do Supremo do que a escalação da Seleção Brasileira.
Mesmo com questionamentos frequentes sobre o processo de indicação de ministros, que rotulam os indicados como devedores de gratidão ao presidente da República que os escolheu, a verdade é que a Corte Suprema conquistou respeito dos brasileiros pela independência de suas decisões coletivas. Há no tribunal, como já reconheceram vários de seus integrantes, uma cultura de autonomia, proteção dos princípios constitucionais e compromisso com os interesses maiores da nação. Raramente um ministro destoa dessa visão.
Evidentemente, o Supremo não é infalível, mas suas decisões transparentes e bem fundamentadas têm sido um dos sustentáculos da democracia brasileira. Por isso, preocupa tanto o risco de contaminação política, acentuado nos últimos dias com a indicação do ex-ministro da Justiça Alexandre de Moraes para o lugar de Teori Zavascki. Não se trata apenas da filiação partidária do indicado ou de suas recentes ligações com os atuais ocupantes do poder. O que mais provoca desconfiança é a chegada à Corte de um representante da política num momento de degradação moral da classe e na antevéspera do julgamento de governantes e parlamentares envolvidos com a corrupção.
Ao novo ministro, portanto, não bastará ser honesto, imparcial e justo. Terá, como se dizia da mulher de César, de demonstrar constantemente todas essas virtudes para justificar sua condição de julgador da corte do juízo final.