O editorial de ZH de ontem defendeu a transparência. Discordo. Nem tudo deve ser objeto de transparência. Informação demais mata seu objeto. É preciso triagem na informação, separar o que é essencial do que é acessório, do que traz benefícios à função pública do que vem para constranger servidores. De nada adianta encher o "seu Zé" e a "dona Maria" com milhares de dados se não são justificados os seus fins. A hiperinformação mata a verdade.
A sociedade precisa escolher entre "desburocratizar" e "políticas de transparência". Ou ela quer serviços com rapidez e qualidade, ou ela quer "relatórios de serviço". Um tira o tempo do outro. Veja o ponto eletrônico: você tem tanto a fazer para resolver suas falhas, que não consegue trabalhar, pois o sistema é repleto de erros e registros que não são feitos: resultado, perde-se mais tempo para acertá-lo do que com o trabalho em si!
A transparência deve deixar ao cidadão a informação que realmente importa. Há instâncias de controle e fiscalização internas que devem exercer sua função. Transferi-las para o cidadão emperra processos de trabalho e dá a ilusão de participação: como no preço "transparente" da passagem, no entanto, tudo já está decidido!
A transparência em excesso é um fetiche do capital para reduzir as coisas somente à sua operacionalidade e ao cálculo, típico da sociedade de controle. A transparência é uma forma de coação que acaricia o ego do cidadão e transforma todos os fatos em equivalentes: é a nova palavra para uniformização, e por isso, é sempre totalitária, porque nivela o homem à máquina, daí sua violência.
Precisamos reagir ao seu mote "expor", "expor" e "expor", que transforma tudo em mercadoria entregue para devoração imediata. Há formas, processos, rotinas e ações inacessíveis para as formas de registro de plantão, o esforço pessoal, a dedicação, o "pagar para trabalhar". Diz Robert Sennet: "Os homens têm de acreditar e confiar no seu governante: juntamente com a sua confiança, concedem-lhe uma certa liberdade de ação e renunciam a um exame e a uma vigilância constante. Sem essa autonomia, o governante não poderia de fato dar um passo".