Na próxima quinta-feira, 16 de fevereiro, comemora-se o Dia do Repórter. A propósito, lembro a figura de Rubem Braga (1913-1990), que passou para a história como o maior cronista do Brasil, mas que, no início da carreira, foi também repórter. Atuou em jornais do Espírito Santo e de Belo Horizonte, fez cobertura da Revolução Constitucionalista de 32, quando chegou a ser preso; percorreu o interior paulista e o norte do Paraná, registrando em reportagens negócios de importadores europeus de café. Em 1944, atuou como correspondente de guerra na Itália, junto à Força Expedicionária Brasileira.
Costumava escrever cartas públicas aos líderes da época, de Getúlio a Arthur Bernardes. Suas críticas e denúncias irritavam muita gente. O que levou, certa vez, o general Góes Monteiro, ministro da Guerra de Vargas, a declarar que os jornais tinham que "se comportar e baixar a crista". Além de uma resposta à altura, Rubem ainda ironizou, recordando ao general que já o havia entrevistado e se ele não lembrava do seu nome, seria apenas porque "repórter não tem nome". E acrescentou: "Quando apertei vossa heroica mão, pronunciei apenas o nome do jornal em que trabalhava. Depois curvei a cabeça e registrei com meu lápis as vossas palavras".
Esta afirmação de Rubem Braga parece hoje vir de encontro ao que ocorre no jornalismo moderno, onde a figura do repórter costuma sobressair, e o próprio profissional, deliberadamente, faz questão de aparecer e de ser reconhecido, seja no jornal, no rádio ou na televisão.
Na verdade, os tempos mudaram, mudou também a prática do jornalismo, com o repórter sendo sempre identificado e o seu papel mais valorizado. Um item, porém, não mudou: a notícia continua sendo mais importante que o repórter, a mensagem mais importante que o mensageiro. Sob este aspecto, o mestre de Cachoeiro do Itapemirim tinha a sua razão. Mas, a humildade não costuma ser uma das virtudes dos que adotam essa profissão.
Outro ponto que merece reflexão na passagem da data é a vida útil relativamente curta do repórter de hoje. No passado, a maioria dos grandes nomes do setor envelhecia e se aposentava como repórter. Já a tendência atual é a de se promover a funções consideradas mais nobres os profissionais que se destacam nesta categoria. Assim, em vez de continuar indo para as ruas, ele se restringe ao ambiente fechado das redações, passando a ocupar a sala de diretor, a mesa de editor ou galgando o status de colunista, articulista, editorialista, entre outras atribuições, e também virando condutor de programas de rádio, analista político, narrador ou comentarista de futebol, apresentador ou âncora de programa de televisão.
Temos ainda aqueles que, por circunstâncias diversas, buscam outros caminhos, como o magistério superior, as assessorias de imprensa, os blogs ou sites especializados. Enfim, são talentos da reportagem que se dispersam. No caso das promoções, é a valorização às avessas do repórter. Ele ganha porque evolui dentro da carreira, mas a qualidade da informação muitas vezes cai ou passa a depender de cabeças menos experientes.
De qualquer forma, com nome ou sem nome, o repórter, no seu devido lugar, será sempre personagem essencial no jornalismo.