Um país dividido, o ambiente conturbado, as incertezas causadas pelas possíveis consequências da Lava-Jato. Em meio a tanta desconfiança com relação às instituições democráticas, Teori Zavascki, como relator dos processos ligados à operação no STF, era um oásis de estabilidade. Depois de sofrer pressões e até ameaças à família, havia conquistado a confiança dos seus pares, da imprensa e da maioria dos brasileiros.
Conheci-o há mais de 40 anos, quando estagiou no escritório que dividia com os juristas Manoel André da Rocha e Luiz Carlos Lopes Madeira. Desde então, acompanho-o, inicialmente como colega e, mais tarde, como amigo e admirador de seu trabalho. Antes da magistratura, atuou como advogado do Banco Central e diretor jurídico do Banco Meridional. Mas sua capacidade de aliar o saber jurídico a uma objetividade crua o fazia um juiz nato.
Seu lado era o Direito. Chegou à magistratura federal com o aval do Paulo Brossard, nomeado pelo então presidente José Sarney. Depois, foi alçado ao STJ indicado por Fernando Henrique Cardoso. Mais recentemente, foi a caneta de Dilma que o levou ao STF. Como bem se vê, seu comprometimento não era com siglas partidárias ou com a política, mas com a Lei.
É difícil para nós, que vivemos o calor da política, entender isso. Jantei com ele semana passada. Falamos sobre Grêmio, rimos muito e conversamos sério também. Estava feliz com seu momento e o reconhecimento do seu trabalho – ficou contente e encabulado com o elogio que ganhou da garçonete do restaurante Sakura. Antes disso, perguntei como encarava as possíveis consequências políticas de suas decisões relativas à Lava-Jato. Na intimidade de uma mesa de amigos, se mostrou tranquilo. Faria o que tivesse de ser feito, independente de consequências políticas ou brados nas redes sociais, disse.
A perda precoce de Teori é uma tragédia para os filhos – Liliana, Alexandre e Francisco –, para a enteada Mariana, para a família e os amigos. Mas pode também pode ser uma tragédia para o país. Resta a nós torcer para que os processos caiam em mãos tão sérias e competentes como as do amigo que nos deixou.