Os massacres recentes revelam e reforçam a tese de que nossas prisões se tornaram "escolas do crime". Não são acidentes esses, mas realidade do inferno e caos prisional. O porte interno de armas, de drogas e de celulares demonstra que o sistema está corrompido. É a ponta de um iceberg. Assim está nosso Brasil. A maioria das prisões se tornou universidades do crime, onde se diploma para roubar e matar ainda mais. É lá dentro que se reúnem os bandidos de todas as espécies, podendo arquitetar o mal em conjunto. Como o provérbio popular diz, a ocasião faz o ladrão. Alerta o salmo primeiro: "Bem-aventurado o homem que não se assenta na roda dos escarnecedores" (Sl 1,1). O complexo prisional precisa urgentemente de reforma, a começar pelo Congresso Nacional, que também se tornou um "covil de ladrões" (Mc 11,17), ousando repetir as palavras de Jesus no Templo de Jerusalém.O modelo prisional de Associação de Proteção e Apoio aos Condenados (Apac), como o de Barracão (PR), procura uma alternativa na recuperação do encarcerado. Os próprios presos, chamados de recuperandos, mantêm todo o processo de limpeza, cuidados, alimentação, estudo, num modelo que não utiliza policiais, armas ou qualquer tipo de violência. Os apenados recebem ajuda de voluntários em atendimentos psicológicos, religiosos, esportivos e sociais, reduzindo pela metade o custo de um preso, comparado ao sistema tradicional. Espalhadas por cidades brasileiras, em 40 anos, as Apacs recuperaram 90% dos condenados. Dos 70% de reincidência dos presos do sistema carcerário comum, nelas esse número cai para 10%.É preciso acreditar na conversão do pior bandido e do mais miserável pecador, que será sempre um prisioneiro de seu pecado e de sua própria vontade irracional. Todos precisamos de conversão. Não somos mais santos do que qualquer criminoso. São João afirma que quem odeia o seu irmão é um homicida (cf. 1Jo 3,15). Os detentos na prisão são também filhos de Deus, filhos de nosso tempo e nossa sociedade. No Juízo Final, que Deus não nos reprove com essa frase sentencial: "Estive nu e não me vestistes, doente e preso e não me visitastes"(Mt 25,43).
Artigo
Gerson Schmidt: escolas do crime
Padre e jornalista
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