Toma vulto nos dias atuais a pergunta que se escuta nos caixas de mercados, lojas e afins "deseja o CPF na nota?". Esta indagação faz parte de uma manobra que afronta a privacidade das pessoas. Hoje não basta ao governo saber quanto a gente ganha; eles querem saber quanto a gente gasta, para fazer um comparativo que possa indicar possíveis sonegações, se é que alguma coisa possa escapar da voracidade pantagruélica da declaração de renda.
Em 1949 George Orwell († 1950) criou uma obra de ficção "1984", considerada a obra prima do romancista inglês. No livro há um personagem chamado "O Grande Irmão", tradução literal de "Big Brother'' no original, que na verdade significa "Irmão Mais Velho", em linguagem coloquial inglesa. Na sociedade descrita por Orwell, todas as pessoas estão sob constante vigilância das autoridades, principalmente por teletelas (telescreen), sendo constantemente lembrados pela frase propaganda do Estado: "o Grande Irmão zela por ti" ou "o Grande Irmão está te observando" (do original "Big Brother is watching you").
Pois essa nova medida de vigilância nacional é a versão tupiniquim da ficção de Orwell, onde o governo e a Receita Federal querem dar fé de tudo o que se faz. Há dias eu fui fazer uma compra de um tecido numa lojinha de Canoas e a vendedora me pediu identidade e CPF. Não era algo opcional, mas coercitivo, sine qua non. Como eu me negasse apresentar os documentos exigidos, a balconista informou que sem aquela formalidade a compra não poderia ser realizada. Saí de lá indignado com a exigência, sob os protestos da funcionária que queria que eu indenizasse o tecido que havia sido cortado.
Em algumas lojas. Postos de gasolina e supermercados é pedido opcionalmente a apresentação do CPF, embora já há quem diga que para o próximo será obrigatório. Isto é um desaforo em um país que explora o cidadão, onerando-o com uma perversa carga tributária, com uma arrecadação mal empregada em salários injustos de parlamentares, magistrados e outros príncipes da República, além de obras inacabadas e projetos duvidosos. Na semana em que escrevi esta crônica, mesmo antes de publicá-la o meu condomínio avisou eu todos os boletos bancários devem conter o CPF.
Já chega a minha atividade principal que me leva um caminhão de dinheiro na fonte e dois caminhões na declaração anual. Realizo palestras, conferências, cursos e aulas particulares onde me nego a dar recibo por conta do quanto esse governo achacador já me explora. Já chega o que as "redes sociais" nos espionam. Quando vou a um evento cultural já vou avisando: "sem recibo!". Os calhordas dos nossos representantes políticos sempre decidem contra nós. É vergonhoso!