Do que se conhece até agora sobre até onde as figuras execráveis do corrupto e do corruptor podem chegar, não há exemplos mais acabados do que os do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), de um Estado quebrado por má gestão como o Rio de Janeiro, e do empresário Eike Batista, que até pouco tempo surfou na onda de benesses e incentivos fiscais, exibindo-se como o homem mais rico do Brasil. O relacionamento espúrio do ex-gestor público, agora preso, com o então megaempresário, que conseguiu até mesmo escapar da Polícia Federal, assegurou-lhe um "oceano ainda não completamente mapeado" em dinheiro ilícito, na definição do coordenador da Operação Lava-Jato no Rio. É exatamente esse poder assegurado por desvios milionários que desafia ainda mais as instituições a fazerem justiça, apurando responsabilidades, punindo os responsáveis e reavendo o dinheiro surrupiado dos brasileiros.
O país não pode continuar convivendo com uma situação em que, de um lado, falta dinheiro para manter servidores com os salários em dia e garantir um padrão de serviços com um mínimo de dignidade para a população. De outro, persiste esse contraste em que um magnata se expõe com uma Lamborghini dentro da sala de sua mansão e admite ter distribuído dinheiro a mais de uma dezena de alguns influentes partidos políticos do país. O beneficiário mais típico dessa deformação, até agora, é justamente o ex-governador fluminense, que compartilhava luxos como joias e ternos de grife com a família e a ex-mulher, além de brindar um círculo de amigos com gastos exóticos – tudo bancado pelos contribuintes.
Por suas características, propina não costuma deixar rastros, o que torna o trabalho de operações como a Eficiência, realizada agora, e a Calicute, que resultou na prisão de Sérgio Cabral, ainda mais relevante. A sociedade também vem sendo desafiada num momento que pode ser decisivo para o combate a essas práticas. Não basta apenas os eleitores se indignarem diante da corrupção. É preciso também que vigiem mais de perto a trajetória de seus candidatos eleitos.
Não pode mais haver espaço para políticos que alegam desconhecer de onde jorra o dinheiro que financia suas campanhas eleitorais nem para quem busca na atividade uma alternativa de enriquecimento ilícito. O descalabro da farra da propina precisa motivar uma reação que redirecione o país para os interesses de seus cidadãos.