Virou escândalo nacional a licitação para compra de alimentos destinados a passageiros e tripulantes do avião presidencial. Diante da repercussão da notícia sobre os gastos exagerados em sorvetes, refrigerantes e tortas de chocolate, entre outros produtos, o presidente Michel Temer determinou o cancelamento da operação e uma revisão do processo de abastecimento de todas as aeronaves que servem ao governo federal.
Se o assunto não tivesse vindo a público, o Planalto teria feito um gasto de R$ 1,75 milhão em lanches e refeições, pagando preços acima do mercado e comprando produtos que contrastam com a escassez de recursos do próprio governo federal e da maioria das administrações estaduais. Um dos itens que mais chamaram a atenção foi a intenção de compra de 500 potes do sorvete americano Häagen-Dazs, cujo preço de mercado é de R$ 11,25 para potes de 100g, mas que poderia custar até R$ 15,09 a unidade pela licitação.
O episódio deixa várias lições, entre as quais a de que a transparência – como a luz do sol da célebre citação do ex-juiz norte-americano Louis Brandeis – continua sendo o melhor desinfetante da administração pública. Evidencia também que cidadãos habilitados por informações responsáveis e confiáveis podem, sim, interferir na conduta de seus governantes e representantes políticos.
Embora um presidente da República dificilmente palpite nesse tipo de aquisição e outros governantes já tenham se beneficiado de compras semelhantes, o sorvete sofisticado tornou-se mais amargo para Michel Temer porque ele está promovendo um governo de austeridade e sacrifícios para a população.