Entrevista do ex-ministro Maílson da Nóbrega, que administrou a economia entre 1988 e 1990 num momento muito parecido com o atual, é exemplar para que se compreenda os movimentos do governo Temer e a perspectiva de retomada do crescimento no país. Ele aprova inteiramente a PEC do Teto de gastos públicos e diz que a reforma da Previdência já devia ter sido feita há muito tempo, pois o Brasil gasta neste item o dobro do que gastam alguns países ricos. Mas adverte que os sinais de recuperação só começarão a aparecer no segundo trimestre de 2017 e que, até lá, o governo terá que lidar com a impopularidade, com o aumento do desemprego e com "demagogos que se aproveitam do analfabetismo econômico para dizer mentiras que satisfaçam os objetivos de sua classe, seu partido, seu grupo".
O próprio presidente Michel Temer advertiu esta semana que não existe mágica para tirar a economia da estagnação em pouco tempo. Mas assegurou que as medidas sugeridas pela equipe econômica continuarão a ser implementadas, por mais impopulares que pareçam. Além de tocar as reformas trabalhista e da Previdência em 2017, o governo pretende conceder à iniciativa privada a administração de aeroportos, rodovias, ferrovias, portos e de blocos para a exploração de petróleo. E até março o Planalto deverá anunciar um novo pacote de projetos de concessões.
Mesmo com todas essas providências, o Brasil terá que conviver com a crise por longos meses. Como adverte Maílson, a retomada do crescimento depende de um conjunto de causas que vão desde a qualidade da educação até a melhora de produtividade, e todos esses pré-requisitos estão deteriorados. Por isso o país chega aos últimos dias do ano num ambiente de apreensão e pouca esperança, mas, pelo menos, os brasileiros não estão sendo enganados.