Giovanni Sartori analisa o mundo de hoje.
Para ele a revolução multimídia (internet, computadores, ciberespaço) tem como denominador o tele-ver e, como consequência o vídeo-viver.
Constata que o vídeo criou o "homo videns".
Este personagem substituiu o homo sapiens, produto da cultura escrita.
É a imagem em lugar da palavra.
Há um novo personagem: o vídeo-criança.
É educado pela imagem que vem, da TV, do celular, do iPad, etc.
Antes de saber ler e escrever, tudo vê: Peppa, Galinha Pintadinha...
[A criança, absorvida pela imagem, liberta os pais]
A imagem da TV supera a fala e a escrita - o inteligível.
A fala, na TV, é comentário sobre a imagem.
O importante é ver, mesmo sem entender.
O alvo é o olho
É a informação pela imagem, que, "em lugar de transformar a massa em energia, produz mais massa" (Baudrillard).
É inevitável, pois todos estão conectados.
É útil, desde que não produza uma vida inútil - viver para matar o tempo!
Chegamos à política, a vídeo-política.
Na democracia representativa, a opinião pública é importante guia dos governos.
Opinião é um parecer subjetivo, é um "acho-que" global.
Não é uma crença.
Eis a questão: como se forma a opinião pública sobre a política?
Depende de informações sobre a coisa pública, seu estado no passado, no presente e no futuro.
[Lembrei Jorge Luis Borges, sobre Tlön: ...que el presente es indefinido, que el futuro no tiene realidad sino como esperanza presente, que el pasado no tiene realidad sino como recuerdo presente]
Nos regimes autoritários, há o controle do conteúdo e do fluxo das informações.
Nos democráticos, sobre o conteúdo e fluxo preponderam os meios de comunicação de massa.
A imprensa livre e diversificada garante um certo equilíbrio.
Isso se aplica aos jornais, revistas e rádio.
Na TV típica, a imagem, que é para ver, supera o discurso.
A imagem rompe a diversidade.
Ela - a imagem - é a autoridade em que se crê.
A notícia, na TV, são imagens de acontecimentos, com manifestações de transeuntes (ver, Luis Fernando Veríssimo em O Popular).
Há, ainda, as pesquisas de opinião, que, ao fim, são pesquisas da emoção do público.
A TV condiciona tais pesquisas, quando não as manipula.
A formulação da pergunta atua sobre a resposta: deve-se permitir o aborto ou proteger a vida?
A TV influencia o processo eleitoral na escolha dos candidatos pelos partidos (produtores de votos) e na condução da disputa eleitoral.
Ela insufla e, em grande parte, determina a agenda e as decisões dos governos.
Será que o momento é da post-verdade e do lumpesinato intelectual?
Se for assim, até os idiotas de Nelson Rodrigues terão que abandonar a cena.