Fala-se que vivemos na era da "pós-verdade", escolhida a palavra do ano pelo Dicionário Oxford: termo "relativo a ou que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião do que apelos à emoção e à crença pessoal". Utilizado pela primeira vez em 1992, consagrou-se mais recentemente.
Na realidade, não se trata propriamente de novidade. A mentira, a falsificação da realidade, tem servido ao longo da história à política. Não apenas a mentira ocasional e fragmentária, mas sobretudo a mentira deliberada e sistemática. Já no século 16, Maquiavel assinalara que o Príncipe, o governante, não necessitava possuir todas as qualidades, sendo suficiente apenas aparentar possuí-las. Mais ainda, "possuindo-as e usando-as todas, tais qualidades ser-lhe-iam prejudiciais, enquanto que aparentando tê-las são-lhe benéficas". Antes, ainda, Platão salientara que a mentira, embora não seja útil aos deuses, poderia revelar-se proveitosa aos homens. Referia-se à "nobre mentira", à "mentira benéfica".
Verdade que a política não é só razão, mas emoção também, pois envolve muitas vezes opções estratégicas, visões de mundo distintas. Entretanto, hoje, sobretudo no Brasil, a política se transformou em grande parte na arte da mentira. A começar pelo denominado "marketing político ou eleitoral". Há, inclusive blogs, aparentemente neutros, diretamente remunerados, geralmente com dinheiro público, por partidos e governos, procurando traficar a ideia de imparcialidade, quando na realidade dão a versão oficial ou oficiosa de partidos ou de governos. Mera narrativa ao gosto do patrocinador, seja ele quem for. Lógica que avilta a política, que procura transformar o eleitor em mero objeto de manipulação e não em efetivo cidadão.
Essa, em grande parte a realidade que hoje presenciamos no Brasil. O caminho para a sabedoria, espera-se, começa pela dúvida permanente, pelo esforço de ler nas entrelinhas dos discursos e das ações, de observar o conteúdo além da forma, de procurar o verso para chegar ao anverso. Finalmente, trata-se da necessidade, nessa era de simulacro, de um esforço em busca da verdade.