O êxito de Nova York no combate à criminalidade que a assolou por décadas é conhecido.
A luta contra o crime, por lá, teve como pano de fundo a adoção de uma tese elaborada no meio acadêmico com base em experimentos de psicologia social. Em 1969, o professor Zimbardo, de Stanford, propôs um teste para melhor compreender o comportamento social: abandonou carros idênticos em ruas de distintas regiões dos EUA. Um foi deixado no Bronx, bairro de Nova York, à época, caótico; o outro na civilizada Palo Alto, na Califórnia.
Como previsto, o carro deixado no Bronx, em horas, passou a ser saqueado. Dias depois, tudo o que tinha valor havia sido levado. O automóvel de Palo Alto manteve-se intacto.
Zimbardo, então, inseriu ingrediente extra: quebrou o vidro do carro estacionado em Palo Alto. Sem demora, o automóvel, à semelhança do ocorrido com aquele do Bronx, passou a ser furtado.
Com base neste experimento, anos depois Wilson e Kelling desenvolveram a Teoria das Janelas Quebradas, segundo a qual os delitos serão tanto mais volumosos quanto maior for a desordem, a sujeira e o abandono. Se a janela de um prédio é quebrada e não é prontamente reparada, a tendência é de que em breve as demais também o sejam e dissemine-se o vandalismo. Um vidro quebrado transmite ideia de deterioração e desinteresse. Faz presumir a ausência da lei. Cada novo ataque depredador reafirma esse juízo e estimula outros piores, desencadeando incontrolável violência. Se pequenos delitos não são coagidos, outros maiores são encorajados.
A virada de Nova York teve por base a aplicação desta teoria e iniciou nos anos 80, pelo metrô. Pequenos delitos, antes tolerados, passaram a ser reprimidos. A fiscalização intensificou-se e passou-se a zelar pela limpeza e ordem. Em pouco tempo, o perigoso metrô tornou-se seguro.
Posteriormente, sob o comando do prefeito Giuliani, logrou-se a guinada definitiva replicando-se o modelo ensaiado no metrô a toda a cidade. Os resultados foram excelentes e constatados pelos frequentadores da cidade.
Inevitável circular pela esburacada Porto Alegre, passar por obras inacabadas, vivenciar a violência e não recordar o exemplo nova-iorquino.
Decerto não se pode atribuir o sucesso da metrópole americana exclusivamente à adoção da referida teoria, mas convém que os governantes não desprezem a experiência e tenham presente que nem sempre é preciso soluções inéditas para problemas usuais.