Políticos costumam ter um discurso para jornalistas, em ambientes públicos, e outro para os seus, em ambientes privados.
É por isso que o vazamento de uma conversa do secretário da Fazenda, Giovani Feltes, com empresários de Carlos Barbosa, na última segunda-feira, tem alto interesse social. Imaginando falar em off, Feltes, que "tem 10 eleições nas costas e não perdeu nenhuma", discorreu, de forma genérica, sobre bastidores de campanhas eleitorais. O encontro foi gravado por uma repórter do Jornal Contexto.
A palestra sobre a situação das finanças públicas e os desafios para colocar o Rio Grande do Sul em um patamar de equilíbrio fiscal transcorria sem surpresas até o secretário mudar o tom da conversa:
"Em off, pessoal: anjo não se elege nem vereador em Carlos Barbosa... Eu tenho 10 eleições nas costas... Não perdi uma eleição graças a Deus... Então, em off: me dá uma mão para campanha? Sim, mas aqui eu tenho R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 50 mil sei lá quanto, mas... não bota o meu nome na tua prestação de contas. Quem dizia que não? Tá bom. Tu precisas! Tinha de acabar um pouco com esta hipocrisia...".
As declarações dão margem para dúvidas. Feltes teria sido eleito vereador, prefeito, deputado estadual e deputado federal utilizando-se de caixa 2 em suas campanhas? Ele seria o anjo isolado em um universo onde inexistem mensageiros de Deus ou teria chafurdado na lama, em uma prática que, segundo o próprio secretário da Fazenda, seria regra e não exceção?
A Operação Lava-Jato tem mostrado que o caixa 2 é pago com dinheiro público. Governos contratam obras ou serviços superfaturados e, em contrapartida, políticos recebem parte do dinheiro para financiar campanhas na informalidade, sem registro na Justiça Eleitoral. O suposto esquema que o secretário descreveu na conversa com empresários seria parecido?
Em outro trecho, Feltes diz aos empresários algo que seria adequado direcionar ao Ministério Público e aos órgãos policiais:
"Quem tem dinheiro de caixa 2 que não contabiliza nunca? Jogo do bicho... Em off: em Novo Hamburgo elegeram um traficante para a Câmara de Vereadores. Eu conheço outras cidades que também elegeram. Lá, é dos Manos, mas deve ter alguém dos Bala na Cara eleito vereador em outras cidades".
Em nota de 16 linhas, a assessoria de imprensa informou que o secretário utilizou expressões de "maneira genérica, sem vinculação a um fato objetivo e específico. O secretário reconhece que foram colocações fora do contexto e infelizes".
Nos conte mais, secretário. Sem "hipocrisia", como o senhor mesmo sugeriu na conversa com os empresários.