A crise que hoje vivemos decorre do que fizemos, ou aceitamos que fizessem, no passado. É extremamente difícil confrontar-se com as consequências de erros cometidos e permitidos. Ainda mais difícil, após ganhar consciência, é fazer as mudanças necessárias. O desafio agiganta-se conforme a procrastinação.
Chegamos a um quadro de esgotamento do uso de depósitos judiciais, que já são fontes de financiamento alternativas, excepcionais. E as despesas continuam crescendo. Com a retração da atividade econômica sendo um fator de pressão de curto prazo, a frouxidão no esforço fiscal, uma pressão de médio prazo e o endividamento público de longo prazo, chegamos à calamidade econômica, e a hora de tomar duras providências.
Como pudemos aceitar sucessivos déficits primários por décadas e décadas? Por que não fizemos mudanças graduais, antes de a dívida pública de R$ 62 bilhões requerer um corte profundo em nossa própria carne?
Na ciência econômica, usa-se a expressão externalidade para assinalar os efeitos reflexos a terceiros, externos à relação entre as partes.
Um governante, ou mesmo um cidadão, segundo esse conceito econômico, pode não levar em consideração os efeitos decorrentes de suas ações/decisões para com outros, e tal mentalidade seria altamente prejudicial no longo prazo.
A falta de uma visão de Estado está cobrando seu preço, novamente. Do ponto de vista de nossas empresas, o pacote anunciado dificulta ainda mais a competitividade dos produtos gaúchos, ao reduzir créditos presumidos indiscriminadamente e pressionar o já combalido fluxo de caixa de todas as indústrias, pela antecipação do ICMS.
Os doutrinadores da teoria de interpretação econômica do Direito defendem que os processos legais devem, mais do que assegurar direitos, conduzir o Estado à alocação mais eficiente do dinheiro.
Todos temos nossa cota de sacrifício adicional, mas é nas empresas gaúchas que reside a saída da crise causada pelo crescimento desmedido e ineficiente do Estado.