Ao examinar algumas características dos movimentos sociais contemporâneos, desde a Tunísia, passando pelo Occupy Wall Street, Manuel Castells, em Redes de indignação e esperança, salienta o processo de construção simbólica, a partir da comunicação em rede, como um dos elementos importantes nas mobilizações. Além disso, outros pontos convergentes nos recentes protestos seriam: a liderança colegiada e a busca por novas formas de participação e deliberação na esfera política. Porém, as raízes nos modos de organização dos atuais movimentos estudantis talvez sejam mais antigas.
No Chile, em 2006, mais de 600 mil estudantes secundaristas tomaram escolas, organizaram assembleias e saíram em passeata pelas ruas. Eram as primeiras manifestações da chamada Revolução dos Pinguins, cujas reivindicações eram, inicialmente: a gratuidade no exame de seleção na Universidade, o passe escolar livre e a reforma estrutural em algumas escolas.
A mobilização dos estudantes chilenos teve significativa adesão das famílias e de organizações da sociedade civil. O governo de Michelle Bachelet não silenciou diante das demandas. A presidente criou um Conselho com alunos, pesquisadores, professores, gestores de instituições de ensino, entre outros. Mesmo que o relatório final do colegiado não tenha chegado a um consenso, ele foi fundamental para o pacto educativo apresentado em 2007.
Desse modo, os movimentos de ocupação em instituições de ensino no Brasil também revelam a necessidade dos estudantes de que suas vozes sejam ouvidas. A política tradicional parece ainda não ter entendido o recado e não sabe como lidar com essas formas de mobilização. É preciso que o governo brasileiro reconheça a urgência de um pacto pela educação – com debates de concepções e com investimento – e, assim, estabeleça uma interlocução responsável com alunos, professores e pesquisadores, ou as mobilizações serão o melancólico retrato de um governo incapaz de dialogar.