Em 2005, os organizadores do Fórum Social Mundial planejaram criar em Porto Alegre um território livre de refrigerantes de marcas estrangeiras. Na orla do Guaíba, sob o calor de janeiro, os idealistas que saíram de diversas partes do mundo para participar do evento não encontrariam nos isopores dos ambulantes bebidas produzidas por multinacionais.
A decisão atendia a duas bandeiras caras aos movimentos de esquerda que, desde 2001, colocavam de pé as tendas do evento criado em contraposição ao Fórum Econômico Mundial. A primeira era valorizar empresas locais. Fazia parte do pacote abastecer os locais de alimentação com produtos da agricultura familiar. A segunda consistia em combater, simbolicamente, a força das multinacionais e incentivar o debate sobre o poder das grandes empresas, do petróleo e do setor automotivo, por exemplo, sobre as nações mais frágeis.
Era o auge do discurso antiglobalização da esquerda. A integração econômica de cima para baixo aumentaria as desigualdades sociais no mundo. Os países pobres seriam explorados pelas transnacionais, e os ricos perderiam indústrias e empregos. Passada mais de uma década, a vitória de Nelson Marchezan Júnior (PSDB) na capital do Fórum poderia ser vista como uma curiosidade local ou reflexo de um contexto nacional. Mas há um cenário político e econômico mais amplo.
Surge hoje uma tendência de fortalecimento da direta em um mundo que ainda não conseguiu recuperar o crescimento, abalado pela crise de 2008. A surpresa é que esse movimento vem embalado por um discurso antiglobalização. O primeiro grande sinal foi dado no Reino Unido, com a aprovação em plebiscito da saída da União Europeia. Ainda que líderes trabalhistas e conservadores tenham defendido a permanência no bloco, uma direita extrema angariou votos pela ruptura batendo na livre circulação de pessoas, principalmente refugiados que utilizam serviços públicos e tomam empregos. Por ora, uma decisão judicial freou o Brexit.
O novo grande indicativo vem dos EUA. O republicano Donald Trump, mesmo sem apoio de boa parcela de seu partido, assombra a candidatura de Hillary Clinton com um discurso xenófobo e protecionista. Para conquistar votos com base no medo, chegou a elaborar a melhor imagem para seduzir alguém que busca segurança, a construção de um muro gigantesco separando os EUA do México. Resta saber se a direita populista será mais eficiente do que sua contraparte à esquerda usando porção do discurso aprendido nos últimos anos. A questão seguinte será entender as razões deste fenômeno.